Sermão para o III Domingo depois da Páscoa
Pe. Marcos Vinicius Mattke, IBP
Brasília-DF, 11 de maio de 2025 A.D.
Caríssimos fiéis,
Neste tempo pascal, em que nossa Santa Madre Igreja ainda se alegra com a Ressurreição do Senhor, a liturgia deste III Domingo nos leva a considerar nossa missão neste mundo. A Coleta de hoje eleva Deus uma súplica digna de nossa meditação: “Deus, qui errántibus, ut in viam possint redíre iustítiæ, veritátis tuæ lumen osténdis: da cunctis, qui christiána professióne censéntur, et illa respúere, quæ huic inimíca sunt nómini; et ea, quæ sunt apta, sectári.” “Ó Deus, que mostrais a luz da vossa verdade aos que andam errados, para que possam voltar ao caminho da justiça: concedei a todos os que se consideram cristãos a graça de rejeitar o que é contrário a este nome e seguir o que lhe é conforme.”
Meus caros, contemplemos primeiramente esta imagem da luz divina que dissipa as trevas do erro. Neste mundo obscurecido pelo pecado e pela confusão doutrinária, onde tantas almas vagam sem rumo, perdidas nos labirintos das falsas filosofias, resplandece a luz imutável da Verdade revelada, e isso pelo testemunho dos membros da Santa Igreja. Como ensina São João Crisóstomo: “Não é possível que o esplendor de um santo permaneça oculto, principalmente quando ele ilumina todo o mundo com os raios de suas obras.” Se o santo não pode ocultar sua luz, quanto mais devem os fiéis deixar brilhar o esplendor da graça que receberam nas águas batismais.
Consideremos, pois, a grave responsabilidade que pesa sobre nossos ombros. Cada um de nós, por nossa conduta, é como um espelho que reflete ou distorce a imagem de Cristo para aqueles que o desconhecem. Os pagãos de hoje — sim, meus caros, porque pagãos há em abundância mesmo entre os que ostentam o nome de cristãos — observam atentamente como vivem aqueles que professam a verdadeira fé. O que veem eles? Veem a coerência evangélica ou o escândalo da contradição?
São Pedro, na Epístola que a Santa Romana Igreja nos propõe hoje, exorta-nos com palavras incisivas: “Caríssimos, rogo-vos, como a peregrinos e estrangeiros, que vos abstenhais dos desejos carnais que combatem contra a alma, tendo entre os gentios um comportamento exemplar.” Notemos, meus caros, esta expressão que o Príncipe dos Apóstolos utiliza: somos “peregrinos e estrangeiros”. Nossa pátria não é este mundo, mas sim o Céu para o qual caminhamos. E no entanto, durante esta peregrinação terrena, somos chamados a dar testemunho daquela realidade que os olhos carnais não podem ver.
Este testemunho, meus caros, não é sem custo. Foi São Cipriano de Cartago quem, enfrentando a perseguição romana, proferiu estas palavras importantíssimas para nós: “O Senhor quis que nos alegrássemos e exultássemos nas perseguições, porque quando estas sobrevêm, então se recebem as coroas da fé.” A alegria na tribulação — que paradoxo admirável da vida cristã! Enquanto o mundo busca desesperadamente eliminar todo sofrimento, o discípulo de Cristo abraça sua cruz cotidiana como instrumento de redenção.
E aqui, meus caros, chegamos ao cerne de nossa pregação. Ser testemunha de Cristo, verdadeiramente, constitui um martírio. A própria palavra “mártir”, do grego μάρτυς, não significa outra coisa senão “testemunha”. O mártir é aquele que testemunha até as últimas consequências a verdade da fé que professa, que mantém até o fim a coerência com a realidade sobrenatural; mantém essa coerência que para o mundo é loucura.
Lembremo-nos dos primeiros cristãos que derramaram seu sangue nas arenas romanas. São Inácio de Antioquia, conduzido a Roma para ser devorado pelas feras, escreveu em sua epístola: “Sou o trigo de Deus; devo ser moído pelos dentes das feras para me tornar o pão puro de Cristo.” Que entusiasmo ardente! Que desejo veemente de configurar-se a Cristo crucificado! Perguntemo-nos, onde encontraremos hoje tal fervor entre os católicos? Muitos mundanos querem morrer por tolices ecológicas ou causas abomináveis. Onde estão os filhos da Igreja para testemunhar e dar a vida pela salvação eterna, o maior bem e glória possível?
Meus caros, nem todos serão chamados ao martírio de sangue. Mas todos — ouçam bem! — todos sem exceção são chamados ao martírio da fidelidade cotidiana. É o martírio do pai de família que recusa um negócio lucrativo mas desonesto, é o martírio da mãe que tanto dá de si pelo bem do filho, é o martírio do jovem que preserva a pureza em meio a um mundo devasso, é o martírio do idoso que suporta com paciência os achaques da idade. É o martírio de todos os católicos que enfrentam diariamente as zombarias dos colegas de trabalho quando se recusam a participar de conversas impuras, que suportam os deboches nas universidades quando defendem a doutrina imutável da Igreja, que são taxados de retrógrados quando se opõem às infames “leis progressistas”, que veem seus filhos hostilizados na escola por não se conformarem com as ideologias perversas, que sofrem perseguição no trabalho por defenderem abertamente os valores cristãos, e que são marginalizados eclesiasticamente por frequentarem a Missa Tradicional em tempos de confusão litúrgica. Pequenos martírios que, unidos ao sacrifício redentor de Cristo, adquirem valor infinito. Pequenos martírios que, unidos ao sacrifício redentor de Cristo, adquirem valor infinito.
O que devem rejeitar, então, para serem testemunhas autênticas? São Tomás de Aquino nos dá o norte: “O homem não deve, por medo da morte, abandonar a defesa do que pertence à vida boa.” Observemos como ele vai à raiz da questão: é o temor, meus caros, frequentemente o temor do que dirão, o temor de perder vantagens terrenas, o temor de ser ridicularizado, que nos faz abandonar o testemunho cristão. Quantos, por covardia, silenciam diante do erro! Quantos, por respeito humano, contemporizam com o mal! Quantos, por amor às comodidades, transigem com os princípios imutáveis da moral!
E o que devemos, pelo contrário, seguir? Escutemos as palavras de São Bento: “Escuta, filho, os preceitos do mestre, e inclina o ouvido do teu coração.” Notemos a dupla dimensão desta escuta: não basta o ouvido externo, é necessário o ouvido interior, o ouvido do coração. A fé não é mera adesão intelectual a um conjunto de verdades abstratas; é a resposta amorosa da criatura ao chamado do Criador. É deixar que a Palavra Divina penetre até a medula da alma e transforme todo nosso ser.
Mas, é claro, seguir a Cristo nos coloca numa posição paradoxal face ao mundo. Estar no mundo sem ser do mundo. Tomar parte na sociedade sem absorver seu espírito. Usar dos bens terrenos sem a eles se escravizar. E tudo isso para incendiar o mundo com o amor de Deus, ser luz do mundo e sal da terra. Santa Catarina de Sena expressa de modo admirável este vocação à santidade transformadora: “Se fordes o que deveis ser, incendiareis o mundo inteiro.” O fogo que Cristo veio trazer à terra deve arder primeiro em nossos corações para depois comunicar-se aos demais.
Eis por que ser verdadeiramente católico é aquilo que de mais ousado podemos fazer na sociedade — não no sentido subversivo que os inimigos da ordem pretendem — mas no sentido de que nossa presença questiona as falsas seguranças do mundo e aponta para realidades sobrenaturais. Todos já notamos, como o verdadeiro católico incomoda precisamente porque sua vida é uma contínua acusação da mediocridade e do relativismo moral, um constante denúncia do materialismo, uma refutação viva do hedonismo que domina nossa sociedade.
Meus caros, ao aproximar-me da conclusão desta homilia, permitam-me recordar-lhes que o testemunho cristão, para ser eficaz, deve estar alicerçado na vida de oração. Como ensina o Papa São Pio X: “A oração é a arma mais poderosa que um cristão possui. É a chave que abre o coração de Deus.” Sem esta união íntima com Cristo, nossas melhores intenções de apostolado resultarão em fracasso. A força para o martírio cotidiano brota da nossa união com Cristo pela graça, no silêncio da adoração, na vida sacramental, na meditação quotidiana.
O Evangelho de hoje nos recorda as palavras do Senhor: “Um pouco e já não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porque vou para o Pai… Em verdade, em verdade vos digo: vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria.” Eis a promessa que sustenta nossa esperança! A tristeza do presente — as incompreensões, as perseguições, as dificuldades inerentes ao combate espiritual — será transformada na alegria eterna do Céu. Do mesmo modo que Nossa Senhora, após as dores indizíveis do Calvário, exultou com a Ressurreição de seu Filho, também nós, seus filhos adotivos, depois das provações desta vida, participaremos da glória que não tem fim.
Meus caros, ao sair hoje da capela, interroguemo-nos sinceramente: “Minha vida é verdadeiro testemunho de Cristo? Estou disposto ao martírio cotidiano que a fidelidade evangélica exige? Sou luz para os que andam nas trevas ou, pelo contrário, motivo de escândalo?” E que a resposta a estas perguntas nos impulsione a uma conversão cada vez mais profunda, para que possamos dizer com o Apóstolo: “Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim.”
E claro, não posso deixar de recordar nosso dever sagrado de rezar incessantemente pelo Santo Padre, o Papa Leão XIV, que a Divina Providência recentemente colocou à frente da Barca de Pedro. Em tempos tão atribulados, quando os inimigos da Santa Igreja multiplicam seus ataques tanto do exterior quanto, mais perigosamente, do interior do próprio santuário, necessitamos de um Pastor que, como verdadeiro Vigário de Cristo na terra, seja testemunha intrépida da Verdade revelada. Elevemos, portanto, nossas preces a Deus para que o Santo Padre seja fortalecido pelo Espírito Santo em seu múnus de confirmar os irmãos na fé, para que não se deixe intimidar pelos poderosos deste mundo apóstata, para que resista às pressões dos que desejam acomodar a doutrina imutável ao espírito cambiante do mundo, e para que, a exemplo dos grandes Papas que o precederam, defenda com determinação inabalável o depósito sagrado da fé contra todos os erros. Que Deus lhe conceda sabedoria para discernir a vontade de Deus, prudência para conduzir a Igreja em meio às tempestades, e a coragem apostólica para ser, como seu patrono São Leão Magno, um baluarte contra as heresias de nossa época.

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