O Antoniano

Santa Fé Católica, Santo Antônio de Lisboa, sã filosofia et alia

O sermão pregado não segue o texto abaixo ipsis litteris.

Sermão para o IV Domingo depois da Páscoa
Pe. Marcos Vinicius Mattke, IBP

Brasília-DF, 18 de maio de 2025 A.D.

Caríssimos fiéis,

Neste quarto domingo depois da Páscoa nossa Santa Romana Igreja dirige a Deus uma prece que deve guiar a nossa oração e assim formar a nossa vida: “Deus, qui fidélium mentes uníus éfficis voluntátis: da pópulis tuis id amáre quod praecipis, id desideráre quod promíttis; ut inter mundánas varietátes ibi nostra fixa sint corda, ubi vera sunt gáudia.” “Ó Deus, que unis as mentes dos fiéis numa só vontade, concedei ao vosso povo amar o que ordenais e desejar o que prometeis, para que, em meio às mudanças deste mundo, nossos corações permaneçam fixos onde estão as verdadeiras alegrias.”

Consideremos, meus caros, o contraste presente nesta prece: de um lado, as “mundánas varietátes” – as mudanças deste mundo, inconstantes, efêmeras, sedutoras; de outro, as “vera gáudia” – as verdadeiras alegrias, imutáveis, eternas, divinas. Entre estas duas realidades, onde devem estar fixos os nossos corações?

Nossa santa Madre Igreja, em sua sabedoria, nos recorda hoje que a verdade não muda com os tempos, não se dobra aos caprichos da moda, não se submete às opiniões humanas, por mais eruditas que pareçam ser. Não, meus caros. A verdade católica permanece, como um farol inabalável em meio à tempestade dos erros modernos.

São Vicente de Lérins, nos primeiros séculos da Igreja, já nos advertia com clareza: “Na Igreja Católica deve-se ter o maior cuidado em manter o que foi acreditado em todos os lugares, sempre e por todos.” Consideremos bem estas palavras: “Em todos os lugares” – a universalidade; “sempre” – a perpetuidade; “por todos” – o consenso dos fiéis. Eis os critérios infalíveis da verdade católica!

Mas, meus caros, eis que hoje, quantos não se deixam levar pelas novidades teológicas, pelas interpretações singulares, pelas adaptações ao espírito do mundo? Quantos não desprezam a verdade para aderir às modas do momento, àquilo que é mais prazeroso, mais fácil, mais cômodo, mais popular? Como se pudessem moldar a realidade à sua vontade. Pobres destes, que pensam que a Igreja de ontem não é a mesma de hoje; que a doutrina pode evoluir não apenas em expressão, mas em substância!

Por isso mesmo juramento Antimodernista – esquecido, senão desprezado, por muitos hoje – mas que renovamos sempre que recebemos uma ordem ou assumimos cargo de ensino, nós afirmamos: “Fidei doctrinam ab Apostolis per orthodoxos Patres eodem sensu eademque semper sententia ad nos usque transmissam, sincero recipio.” Aceitamos sinceramente a doutrina da fé transmitida pelos Apóstolos através dos Padres ortodoxos, sempre no mesmo sentido e na mesma interpretação até nós.

Não, meus caros, não há uma doutrina do século I e outra do século XXI. Não há uma verdade de ontem e outra de hoje! A verdade é como o próprio Deus – imutável. Pois como nos ensina a Epístola de hoje: “Apud quem non est transmutatio nec vicissitudinis obumbratio.” Em Deus não há mudança nem sombra de variação. É o que afirma São Roberto Belarmino: “A Igreja é a mesma em todas as épocas, e permanecerá a mesma até o fim dos tempos.” A Igreja – Una, Santa, Católica e Apostólica – não é uma realidade histórica sujeita às contingências dos tempos, mas o Corpo Místico de Cristo, transcendente às vicissitudes mundanas.

E como alcançar esta firmeza inabalável na fé? Como fixar nossos corações “onde estão as verdadeiras alegrias”? São Tomás de Aquino nos diz: “Três coisas são necessárias para a salvação do homem: conhecer o que deve crer, conhecer o que deve desejar e conhecer o que deve fazer.”

Eis aí, meus caros, o tríplice fundamento da vida cristã: uma fé iluminada, uma esperança ardente, uma caridade operante. E notemos como isto se harmoniza admiravelmente com a coleta de hoje: “amar o que ordenais” – a caridade expressa na obediência a Deus; “desejar o que prometeis” – a esperança voltada para os bens eternos!

Ainda, o Santo Evangelho de hoje nos apresenta o Senhor anunciando o envio do Espírito Santo: “Cum autem venerit ille Spiritus veritatis, docebit vos omnem veritatem.” Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos ensinará toda a verdade. Mas, meus caros, este Espírito da Verdade não fala hoje algo diferente do que falou ontem! Não revela hoje novidades que contradizem as antigas verdades! Não inspira hoje doutrinas que relativizam os dogmas perenes! O Espírito Santo não é um espírito de confusão, mas de ordem; não de revolução, mas de fidelidade à Tradição. Deus não se contradiz!

Por isso São Pio X em sua primeira encíclica E Supremi apostolatus proclama como um clarim: “Não devemos apenas defender a fé, mas também lutar energicamente para promovê-la.” Sim, meus caros, não basta uma atitude defensiva, passiva, tímida diante dos erros modernos. Não devemos professar a fé católica como que se desculpando, se justificando por existir, barganhando espaço, mitigando a verdade para ter alguma voz. Como ensina São Basílio Magno: “Não devemos acomodar a nossa fé ao tempo, mas conformar o tempo à nossa fé.” A verdade católica não necessita de complacências nem de compromissos vergonhosos! São João Crisóstomo nos recorda: “Nada é mais forte que a verdade; nada mais fraco que a falsidade, mesmo quando apoiada por inumeráveis artifícios.” É preciso lutar com as armas da verdade, da caridade e da oração, pelo triunfo da doutrina imutável. Santo Atanásio, aquele gigante da ortodoxia, não temeu permanecer sozinho contra o mundo quando a heresia ariana parecia triunfar: “Não pode haver compromisso com o erro. Aquele que começa por ceder um pouco da verdade acabará por perdê-la completamente.” É necessário professar corajosamente a fé de forma íntegra e clara, sem concessões, sem timidez, mas com a ousadia e coragem dos mártires, pois como afirma Tertuliano: “A verdade não pede favor algum; não necessita de indulgência. Tudo o que ela requer é que não seja condenada sem ser ouvida.” Sim, meus caros, a verdade católica se impõe por sua própria força divina, não por concessões humanas! Como afirma são João Crisóstomo: “A verdade, mesmo silenciada, grita; mesmo proscrita, triunfa; mesmo pisoteada, ressurge invencível.”

E o mesmo Santo Pontífice, em sua magistral encíclica contra o modernismo, Pascendi Dominici Gregis, desmascara a tática dos inovadores: “Longe de tentar suprimir a tradição, os inovadores procuram falsamente usá-la em apoio às suas opiniões.” Quanto sagaz e atual: os modernistas não negam abertamente a Tradição – isso seria demasiado escandaloso – mas a reinterpretam, a deformam, a subvertem para fazê-la dizer o que nunca disse! Abusam da história para contradizer o dogma, da hermenêutica para esvaziar a revelação, da pastoral para relativizar a moral.

Mas nós, meus caros, permaneceremos firmes na fé e na liturgia de nossos pais! Sem compromissos, sem concessões, sem recuos. Não nos deixaremos seduzir pelas “mundánas varietátes”! Fixaremos nossos corações “ubi vera sunt gáudia” – onde estão as verdadeiras alegrias!

E como fazer isto concretamente?Pela formação, pela oração e pelo exemplo.

Consideremos, meus caros, quão vital é a boa formação na fé. O ignorante na fé é como um soldado sem armas, um viajante sem mapa. Em tempos de confusão doutrinária como os nossos, então, quanto mais importante é a formação séria na doutrina. São Jerônimo nos adverte: “A ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo.” Como a fé vem pelo ouvido, poderíamos bem arrematar: a ignorância do Catecismo é ignorância da fé. Como ensina Santo Atanásio: “É melhor lutar pela verdade do que possuir todas as riquezas do mundo.”

Não basta, porém, conhecer a verdade intelectualmente; é preciso assimilá-la meditação e pelos sacramentos. A fé não é meramente uma série de proposições a crer, mas uma Pessoa Divina a amar! A Santa Missa, meus caros, eis o centro insubstituível da vida cristã! A Missa de sempre, pela qual lutamos, o rito Romano tradicional, onde cada gesto, cada palavra, cada silêncio é carregado de sentido teológico, onde o mistério tremendo da Presença Real é adorado com o devido temor e tremor. Santo Tomás de Aquino ensina: “A Eucaristia é o sacramento dos sacramentos, a consumação da vida espiritual.” E é claro, com nossa devoção a Nossa Senhora, sobretudo pelo Terço diário, esse compêndio do Evangelho, essa arma poderosa contra as heresias, como proclamou São Luis Maria Grignion de Montfort: “O Rosário é a arma mais poderosa para tocar o Coração de Jesus.” Claro, não negligenciemos também a adoração eucarística, onde Cristo realmente presente espera por nós para que o consolemos, e aproximemo-nos frequentemente do sacramento da Penitência, não como uma mera formalidade, mas como um meio de conversão pela misericórdia divina. Sem esta vida sacramental e de oração, a fé se torna árida especulação e a luta pela verdade degenera em polêmica estéril! Como afirma São Cipriano: “Ninguém pode ter a Deus por pai se não tem a Igreja por mãe.” É na intimidade com Cristo Eucarístico, na veneração filial à Santíssima Virgem, na frequência devota aos sacramentos que teremos a força para permanecer fiéis à verdade imutável em tempos de apostasia generalizada.

Finalmente, meus caros, após conhecer a verdade e vivê-la interiormente, é preciso testemunhá-la corajosamente diante do mundo, sem respeito humano, sem concessões ao espírito do tempo. O respeito humano – esse temor servil da opinião alheia, essa paralisia espiritual que nos impede de confessar abertamente nossa fé – é uma das mais graves enfermidades de hoje. Quantos católicos, como Nicodemos, só se atrevem a buscar a Cristo nas sombras da noite, tacitamente reconhecendo diante do mundo que Cristo é uma questão de opinião privada. Mas o Salvador nos adverte: “Quem se envergonhar de Mim e das Minhas palavras, diante desta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem Se envergonhará dele.” Não há lugar para a tibieza, para a covardia, para o catolicismo vergonhoso. Como proclama São Justino Mártir: “A verdade, seja por si própria ou pelo sangue dos mártires, sempre vencerá no final.” Os primeiros cristãos confessavam sua fé diante dos imperadores e dos leões; os mártires derramavam seu sangue nas arenas – e nós, herdeiros de tão gloriosa linhagem, hesitaríamos em fazer o sinal da cruz em público, em defender a doutrina católica em uma conversa. É preciso, como nos exorta São João Crisóstomo, que “a verdade, mesmo silenciada, grite; mesmo proscrita, triunfe; mesmo pisoteada, ressurja invencível.” Sejamos católicos não apenas de nome, mas de fato; não apenas no Capela, mas no lar, na escola, no trabalho, na rua. E se o mundo nos odiar, alegremo-nos! Pois assim foram tratados os profetas, os apóstolos, os mártires de todos os tempos! Como disse Nosso Senhor: “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro Me odiou a Mim.” Este testemunho corajoso, sem respeito humano, é o complemento necessário da formação doutrinal e da vida sacramental, para que, em meio às “mundánas varietátes”, nossos corações permaneçam fixos “ubi vera sunt gáudia” – onde estão as verdadeiras alegrias!

Meus caros, neste tempo pascal, quando contemplamos o Cristo Ressuscitado, vencedor da morte e do pecado, renovemos nossa adesão à verdade imutável da fé católica. E pela intercessão da Santíssima Virgem Maria, sede da Sabedoria e Auxílio dos Cristãos, obtenhamos a graça de amar o que Deus ordena e desejar o que promete, para que em meio às mudanças deste mundo, nossos corações permaneçam fixos onde estão as verdadeiras alegrias.


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