O Antoniano

Santa Fé Católica, Santo Antônio de Lisboa, sã filosofia et alia

O sermão pregado não segue o texto abaixo ipsis litteris.

Sermão para o Domingo da Páscoa do Senhor
Pe. Marcos Vinicius Mattke, IBP

Brasília-DF, 20 de abril de 2025 A.D.

Caríssimos fiéis,

Hoje, Domingo, 20 de abril do ano da graça de 2025, como no mesmo dia da ressurreição, Jesus Cristo, triunfa sobre seus inimigos; ele detém uma vitória sem eclipse possível. Aquele triunfo não foi um triunfo efêmero, não foi uma vitória passageira, mas um acontecimento de repercussões eternas.

Contemplemos, meus caros, a majestade do Cristo ressuscitado. Aquele mesmo que pendia da cruz, escarnecido, humilhado, abandonado, agora ressurge do sepulcro com poder e glória. São Gregório nos ensina que esta vitória supera qualquer triunfo terreno, pois enquanto os triunfos mundanos perecem com seus autores, a vitória de Cristo permanece eternamente.

Esta vitória iniciada em Sua divina pessoa se perpetua em Sua pessoa mística, nossa Santa Madre Igreja. Não é uma realidade isolada no tempo, confinada ao sepulcro vazio de Jerusalém, mas um mistério que atravessa os séculos. Cada dia podemos dizer que ressuscita Cristo em seus membros, para sempre vitorioso sobre todos os seus inimigos.

Meus caros, como ensina São Bernardo, Cristo está presente em cada membro de seu corpo místico, de modo que sua vitória se atualiza em cada cristão que vence a tentação, em cada mártir que permanece fiel, em cada alma que persevera na graça.

Caríssimos, esta vitória não permanece distante como um fato histórico empoeirado, mas atualiza-se em cada Santo Sacrifício da Missa, onde Cristo vitorioso renova, de modo incruento, o seu sacrifício redentor, fazendo-se realmente presente na hóstia e no cálice com seu corpo glorioso, tornando presente sobre o altar o triunfo da ressurreição.

Jesus triunfa primeiramente dos inimigos que o conduziram à cruz. Observem, caríssimos fiéis, a divina ironia presente neste mistério: Cristo não apenas neutraliza as intrigas de seus opositores, mas serve-se do próprio ódio dos inimigos para a realização dos seus eternos desígnios. Que admirável plano redentor! Como nos ensina São Bernardo, as mesmas mãos que tramaram sua morte tornaram-se, sem o saber, instrumentos de salvação para o mundo inteiro. Os soldados que guardavam seu túmulo transformaram-se, pela divina Providência, nas primeiras testemunhas públicas da sua ressurreição.

Cristo triunfou também da incredulidade do mundo, daquele espírito mundano que se opõe sistematicamente a Deus. A prova suprema desta vitória é que aqueles que antes eram pagãos, agora professam a fé naquele que foi crucificado. Os que antes o desprezavam, agora estão dispostos a morrer por seu nome. Meus caros, admiremos este paradoxo: pela Cruz, escândalo para os judeus e loucura para os gentios, Cristo conquistou o próprio mundo que o rejeitava. “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular”, como profetizava o Salmista.

Mais profundamente ainda, Cristo desmascarou o mundo e lhe arrebatou os seus até então amantes. Desvelou a falsa sabedoria mundana, a falsa segurança, a falsa glória que o mundo oferece. A Cruz revela-se assim como loucura para os que se perdem, mas poder de Deus para os que se salvam.

Por isso mesmo, caríssimos, está escrito: “Perderei a sabedoria dos sábios e reprovarei a prudência dos prudentes.” Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o investigador deste século? Por acaso Deus não tornou estulta a sabedoria deste mundo?

Cristo ressuscitou não apenas para si mesmo, mas para incorporar ao seu Corpo místico todos os cristãos. Neste aspecto, meus caros, encontramos o sentido da ressurreição para a própria Igreja. Cristo é a cabeça, nós somos os membros; sua vitória é nossa vitória; sua ressurreição é o penhor da nossa.

Vivificados com esta vida sobrenatural em Cristo, perpetuamos em cada geração a vitória de Cristo sobre o mundo. Não estamos, portanto, abandonados na luta contra as forças mundanas, mas sustentados pela força do Ressuscitado. O próprio Cristo disse aos seus discípulos: “tende confiança, eu venci o mundo.” Esta vitória não foi um acontecimento isolado da história, mas é uma realidade permanente. É ele mesmo quem continua vencendo o mundo em nós e por meio de nós, seus membros.

Meus caros, quando resistem às seduções do século, quando se mantêm fiéis em meio à apostasia generalizada, quando testemunham a verdade em um mundo de mentiras, é o próprio Cristo quem continua sua vitória nos cristãos.

Nosso Senhor Jesus Cristo, próximo já da sua dolorosa Paixão, proclamou sua vitória definitiva sobre o demônio. Suas palavras ressoam através dos séculos: “Agora é o juízo deste mundo; agora o príncipe deste mundo será lançado para fora.”

Esta vitória sobre o antigo adversário não foi uma conquista repentina, mas o culminar de uma batalha que se iniciou no deserto, quando Cristo rejeitou as tentações diabólicas. Continuou-se através de toda sua vida pública com a libertação dos possessos e a expulsão dos espíritos malignos. Finalmente, consumou-se de maneira definitiva com a morte e a ressurreição.

São Paulo Apóstolo, com a força e o vigor característicos de suas expressões epistolares, nos descreve este triunfo em termos que evocam um triunfo militar romano: “E despojando os principados e potestades, expôs-os publicamente à vergonha, triunfando deles na cruz.”

Considerem, caríssimos fiéis, a magnitude desta vitória! Aquelas mesmas forças infernais que haviam subjugado a humanidade desde a queda original, aqueles poderes das trevas que pareciam invencíveis, foram definitiva e publicamente derrotados por Cristo na cruz.

A partir da ressurreição, o demônio, outrora príncipe deste mundo, carece de força real. Santo Agostinho muito piedosamente zomba do demônio dizendo que ele está agora como um cão atado, que não pode fazer mal senão àquele que temerariamente se aproxima de suas presas.

Meus caros, isto não significa que o demônio tenha cessado de tentar os homens. Ao contrário, sua raiva aumentou precisamente por ver-se derrotado. Como nos adverte o Apóstolo Pedro, “anda ao redor como leão rugiente, buscando a quem devorar.” Contudo, seu poder está fundamentalmente quebrado, suas pretensões desmascaradas, sua derrota selada. E é tanto mais raivoso quanto mais é constantemente humilhado pelas suas próprias tentativas de sabotar a redenção, pois Deus, em sua infinita sabedoria, sempre se serve das ações do maligno para tirar um bem maior, transformando cada derrota aparente da graça em triunfo mais esplendoroso.

Pela vitória da ressurreição, que também é nossa por pertencermos ao Corpo Místico de Cristo, nós podemos agora zombar e humilhar o demônio. Sim, caríssimos fiéis, aquele que outrora zombava do homem caído, aquele que se vangloriava de sua vitória sobre a humanidade, agora é objeto de escárnio para os redimidos! E que poderias fazer agora, ó antigo serpente? Que nova trama poderias urdir que não se converta em maior glória para Cristo? Que tentação poderias lançar que não se transforme em ocasião de mérito para os fiéis? Que perseguição poderias instigar que não produza novos mártires para o céu? Em tua cegueira obstinada, não percebes que cada golpe que desferias contra a Santa Igreja de Deus torna-a mais forte, cada sofrimento que infliges aos cristãos os purifica, cada mentira que espalhas faz brilhar mais claramente a verdade?

Por admirável disposição divina, as tentações com que o demônio ainda ataca ao homem vêm a constituir-se na melhor ocasião de mérito e triunfo sobre ele. Contemplemos aqui a sabedoria de Deus, que transforma o próprio instrumento do mal em oportunidade de bem! Afinal, a tentação, enfrentada com a graça de Cristo, torna-se meio de santificação. O cristão que resiste ao tentador não só preserva sua alma, mas cresce em mérito e virtude. Assim, caríssimos fiéis, até o antigo inimigo serve, sem o querer, aos desígnios de Deus. Como ensina magnificamente Frei Afonso de Cabrera, o homem que triunfa na tentação recebe uma dupla coroa: não só é vitorioso por nossa Cabeça, Cristo, mas também por sua própria luta pessoal. Que mistério admirável da economia salvífica!

São Paulo, o Apóstolo das Gentes, descreve com expressões de extraordinária vivacidade o que ocorreu com todos os nossos pecados mediante o sacrifício de Cristo: “E a vós, que estáveis mortos por vossos delitos e pelo prepúcio de vossa carne, vos vivificou com ele, perdoando-vos todos os vossos delitos.” Mais ainda, Cristo apagou “o título de dívida que nos era contrário”, aquele documento que atestava nossa condenação, aquela cédula que o demônio, o acusador, exibia contra nós. E não apenas a apagou, mas a “tirou do meio, cravando-a na cruz.”

Pela cruz de Cristo cumpriu-se admiravelmente a profecia de Miquéias, que anunciava a incomparável misericórdia divina: “Que Deus há como tu, que perdoas a maldade e olvidas o pecado do resto de tua herança?” Este Deus de misericórdia “não persiste para sempre em sua ira, porque ama a misericórdia” e, como prossegue o profeta, “voltará a ter piedade de nós, conculcará nossas iniquidades e jogará ao fundo do mar todos os nossos pecados.”

Meus caros, o pecado e o demônio são comparados na Escritura ao cavalo e ao cavaleiro, que juntos cavalgavam livremente pelo mundo antes da redenção. Cristo, ao vencer o pecado na cruz, derrubou simultaneamente o cavalo e o cavaleiro que o montava. A vitória sobre o pecado é assim inseparável da vitória sobre o demônio. Esta imagem nos remete ao sublime Cântico de Moisés, cantado na Vigília Pascal, que celebra a vitória de Deus sobre o Faraó e seu exército nas águas do Mar Vermelho: “Cantemus Domino, gloriose enim magnificatus est; equum et ascensorem dejecit in mare” – “Cantemos ao Senhor, porque gloriosamente se engrandeceu; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.” Este antigo cântico prefigura admiravelmente o triunfo definitivo de Cristo, que na ressurreição não apenas afogou o pecado nas águas do batismo, mas também lançou nas profundezas o demônio, cavaleiro soberbo que julgava dominar eternamente a humanidade caída. Caríssimos, observemos como se entrelaçam as vitórias de Cristo! Uma implica a outra, uma complementa a outra. É uma vitória total, integral, sobre todas as forças que se opunham à salvação humana.

A morte, esse inimigo implacável do homem desde o pecado original, foi também derrotada por Cristo no Calvário. Como diz São Paulo, “o último inimigo a ser destruído é a morte.” E Cristo a venceu, não evitando-a, mas atravessando-a e emergindo triunfante do outro lado. A porta aberta do sepulcro glorioso do Redentor constituiu a prova palpável desta derrota. O túmulo vazio proclama, com eloquência mais poderosa que qualquer palavra humana, que a morte foi definitivamente vencida.

A morte parecia ter triunfado nas trevas da tarde da Sexta-feira Santa. O Autor da Vida jazia sem vida, depositado em um sepulcro emprestado. O silêncio pesado do sábado parecia confirmar a vitória da morte. Mas hoje, na radiante manhã da Ressurreição, tudo se transforma! Podemos exclamar com o Apóstolo, em um grito triunfal que ressoa através dos séculos: “A morte foi absorvida pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”

Meus caros, a liturgia pascal proclama esta vitória em termos de extraordinária beleza. No Prefácio Pascal cantamos que Cristo “morrendo destruiu nossa morte, ressuscitando restaurou nossa vida.” Admirem o paradoxo divino: a morte vencida pela morte, a vida restaurada pela vida! A liturgia nos convida a contemplar este admirável duelo: “A morte e a vida se enfrentaram em combate singular. O Rei da vida, que havia morrido, reina agora vivo!”

E não apenas Cristo triunfou da morte, mas nós também, membros de seu Corpo místico, participamos deste triunfo. É verdade que ainda estamos sujeitos à morte física, este inimigo ainda nos submete temporariamente ao seu império, mas sua vitória é apenas aparente e transitória.

Em Cristo ressuscitado e em sua presença gloriosa no céu temos já a prenda, o penhor seguro, a garantia infalível de nossa futura ressurreição. Como nos ensina o Apóstolo: “Cristo, primícia dos que dormem, ressuscitou dentre os mortos. Porque, assim como por um homem veio a morte, assim por um homem veio a ressurreição.” Para o cristão, a morte já não é o fim aterrador, a destruição definitiva, o abismo insondável que era antes da ressurreição. Transformou-se, pelo triunfo de Cristo, na porta de entrada à vida verdadeira, na passagem da peregrinação ao lar definitivo, do exílio à pátria.

A morte perdeu, assim, seu caráter de jugo de servidão. Já não é o tirano implacável que era, mas o servo que introduz o cristão à presença de seu Senhor. Como diz belamente o autor da Carta aos Hebreus, Cristo veio para “libertar a todos aqueles que, pelo temor da morte, estavam sujeitos à servidão durante toda a vida.”

Cristo, com sua morte redentora, fechou o seio de Abraão — aquele lugar onde as almas justas do Antigo Testamento aguardavam a redenção — e deu liberdade a todas estas almas para que entrassem no gozo da glória celestial. Imaginemos, caríssimos fiéis, aquele momento glorioso em que Cristo, penetrando nas regiões inferiores, proclamou a libertação aos cativos! Os patriarcas, os profetas, todos os justos que haviam esperado durante séculos, viram finalmente cumprida a promessa de salvação.

Não apenas os justos puderam desfilar rumo à bem-aventurança, mas o próprio inferno viu, impotente, Cristo arrancar-lhe a presa que julgava sua por direito. Aquelas almas que o inimigo considerava definitivamente suas foram libertadas pelo poder do Redentor.

Que espetáculo grandioso deve ter sido, meus caros, ver o Senhor da Glória descer às profundezas, não como vítima, mas como vencedor, não como prisioneiro, mas como libertador! Os portões do inferno, que se julgavam inexpugnáveis, cederam ante a majestade do Rei dos reis.

A redenção operada por Cristo é suficiente, em sua infinita eficácia, para que todos os homens possam aproveitar-se dela e não caiam no lugar da condenação. Ninguém está excluído, por princípio, desta oferta universal de salvação. Caríssimos fiéis, que mistério admirável de amor e justiça! Cristo não salva automaticamente a todos, respeitando a liberdade humana, mas oferece a todos os meios necessários para a salvação. O inferno continua existindo, mas já não como uma fatalidade inescapável, senão como a trágica possibilidade para aqueles que, livremente em sua insanidade, rejeitam a graça.

Meus caros, não nos esqueçamos: Cristo triunfou do mundo e de sua sabedoria enganosa; venceu o demônio e seus poderes; derrotou o pecado e suas consequências; subjugou a morte e seu império; despovoou o inferno de suas presas legítimas.

Que conjunto admirável de vitórias! Nenhuma delas isolada, todas interconectadas, todas constituindo um único e grandioso triunfo da ressurreição. Cristo é, verdadeiramente, o Vencedor absoluto, o Conquistador definitivo, o Rei vitorioso a quem toda glória, honra e poder pertencem pelos séculos dos séculos.

E caríssimos, estas vitórias de Cristo não são apenas para sua glória pessoal, mas pertencem a todo o seu Corpo místico. Nós, membros deste Corpo, participamos já destas vitórias e as atualizamos em nossa própria vida católica. Quando resistem à tentação, triunfam sobre o demônio com Cristo; quando se arrependem e obtêm o perdão, vencem o pecado com Cristo; quando suportam com fé as tribulações, superam o mundo com Cristo; quando enfrentam serenamente a perspectiva da morte, antecipam a vitória final com Cristo.

Aproximemo-nos, pois, do altar onde se renova incruentamente o sacrifício redentor, conscientes de que participamos já da vitória de Cristo sobre todos os seus inimigos. Que a Sagrada Comunhão que hoje recebemos fortaleça em nós a vida divina e nos confirme como membros vivos do Cristo vitorioso.

Que a Virgem das Dores que é a Virgem da Glória, primeiro testemunho da ressurreição de seu Filho, aquela que jamais duvidou do triunfo definitivo mesmo na hora tenebrosa do Calvário, nos acompanhe neste tempo pascal e nos ensine a viver como ressuscitados.

Meus caros, Cristo ressuscitou verdadeiramente! Este é o grito de júbilo que ressoa hoje em toda a Santa Romana Igreja. Que este anúncio pascal renove nossa esperança, fortaleça nossa fé e inflame nossa caridade. Que o Espírito do Ressuscitado habite em nós, para que vivamos já desde agora como cidadãos do céu, enquanto esperamos a bem-aventurada esperança e a manifestação gloriosa de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo. Surrexit Dominus vere, alleluia!



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